Caso Moura - O Ecossistema Circular na Reciclagem de Baterias Automotivas.

Aline Faria
Bridge Ecosystem
Published in
4 min readJun 4, 2021

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No post anterior falamos um pouco sobre a situação atual da transição para uma economia de direcionamento circular. Abordamos iniciativas de empresas nacionais e multinacionais, além de propostas feitas por governos de países. Essas iniciativas (autointituladas “ecossistemas”) envolviam grupos de organizações que se juntavam no intuito de contribuir para a aumentar a circularidade nas operações das empresas-membro. Essas iniciativas frequentemente abordam esse direcionamento, sempre que possível, com soluções práticas e escaláveis.

Entretanto, hoje vamos abordar o conceito de ecossistema de posts mais antigos. Isso é, ecossistema como um conjunto de atores interdependentes que colaboram para criar valor para os seus clientes. Nesse sentido, trazemos o caso de uma empresa brasileira que, incentivada por uma mudança na lei, implementou circularidade na cadeia do seu principal produto. Para isso, a evolução da colaboração com seus parceiros de negócios foi essencial, assim como as novas interações com organizações que antes a empresa não tinha relações.

Fonte: Innovation News Network

Estamos falando do caso da Baterias Moura. Em 1999, o Conama — Conselho Nacional do Meio Ambiente — criou a resolução 257 para disciplinar o gerenciamento ambientalmente adequado de baterias esgotadas, no que tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final. A referida resolução exige que as baterias que tenham sido energicamente esgotadas sejam enviadas pelos próprios usuários para o fabricante ou distribuidor. A ideia dessa resolução é que os componentes perigosos das baterias, como metais e ácidos, fiquem longe dos aterros, rios e afluentes, além de incineradores de lixo urbano. Além disso, o material recuperado pode ser utilizado para criar itens de consumo reciclados.

Apesar da resolução 257 colocar a responsabilidade de devolução das baterias no consumidor final, foram as partes do lado da produção e venda de baterias que estruturaram um mecanismo para a reintegração das baterias usadas, construindo a circularidade no negócio. Assim, apesar do principal foco da resolução ser a garantia de que os componentes das baterias nocivos ao meio ambiente não lhe causem danos, a Moura percebeu a devolução das baterias como uma oportunidade de negócio. Para tanto, foi necessário integrar os distribuidores, os pontos de venda, os recicladores e o consumidor final. É importante destacar que, apesar de alguns distribuidores e pontos de venda utilizarem a marca Moura, eles não necessariamente são negócios pertencentes à fabricante, pois existe o modelo de franquias em meio aos negócios do ramo de baterias.

Com essa integração, a Moura promete a garantia do reaproveitamento de 100% dos resíduos sólidos e líquidos decorrente de todos os seus modelos de bateria através do recolhimento da sucata para aproveitá-la na produção de novas baterias. É por meio dessa estrutura que a Moura se torna capaz de produzir baterias recicladas que podem sair mais em conta para o seu cliente ao final do negócio. Quanto à eficiência da bateria reciclada, a empresa argumenta que não há com o que se preocupar, pois a bateria reciclada tem boa performance. Portanto, essa nova organização junto aos seus parceiros cria valor ao oferecer negócios mais atraentes aos seus clientes, além de contribuir para a preservação do meio ambiente.

Abaixo detalhamos o fluxo, organizado de forma numerada, das baterias para que isso seja possível.

Fonte: http://www.mourasp.com.br/reciclagem
  1. A Moura providencia a bateria produzida em sua fábrica para um dos pontos de apoio em sua rede de distribuição;
  2. O distribuidor então vende a bateria para um dos pontos de venda;
  3. Esses pontos de venda arrematam o negócio com o consumidor final;
  4. Ao comprar a nova bateria, o consumidor entrega a sua bateria usada e já sem energia ao ponto de venda. Essa sucata é então encaminhada para o distribuidor;
  5. O distribuidor recolhe as baterias usadas dos pontos de venda;
  6. Por fim, o distribuidor entrega a sucata para a fábrica ou para o reciclador. Na fábrica, a bateria usada é endereçada à unidade metalúrgica de reciclagem de sucatas. Tanto na fábrica ou direto no reciclador, as baterias usadas são trituradas de forma que os seus componentes conseguem ser separados e posteriormente reaproveitados na produção de uma nova bateria.

Temos então no caso da Moura um exemplo de ecossistema nos moldes dos nossos posts anteriores. Isso é, um grupo variado de atores interdependentes (fabricante, distribuidor, ponto de venda, reciclador e consumidor final) que são organizados de forma a criar valor (baterias recicladas/desconto) baseado nas capacidades do grupo. Aqui vemos, portanto, uma geração de valor orquestrada.

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