Circularidade na indústria brasileira da moda: O caso do Enjoei

Aline Faria
Bridge Ecosystem
Published in
4 min readOct 19, 2021

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O desenvolvimento da economia circular no Brasil pode ser visto por diferentes prismas. Apesar do modo de produção circular não ser objetivo para a produção brasileira como um todo, podemos identificar alguns ecossistemas circulares ou situações que podem se desenvolver para tal. Em posts anteriores discutimos os casos da Moura e da Trocafone. Já neste post vamos tratar da indústria brasileira da moda, mais especificamente por meio do caso do Enjoei.

Fonte: Enjoei

Na pandemia da COVID-19, os brechós virtuais se tornaram alvo para pessoas que precisavam de algum dinheiro extra. Neles, os usuários podem vender de tudo um pouco e estender a vida útil dos produtos que já não vinham sendo mais utilizados. Apesar de ser possível vender móveis e utensílios domésticos usados na maioria deles, o foco da maior parte deles está na venda de roupas usadas. Grandes varejistas de roupas e acessórios já perceberam o potencial dos brechós online e resolveram se aliar a eles. Por exemplo, no ano passado a Arezzo adquiriu 75% do brechó virtual Troc. O Repassa, outro brechó online, assinou acordos com marcas como C&A, Renner e Intimissimi. Já o Enjoei, nosso caso de estudo, cresceu tanto que optou por abrir o seu capital na bolsa de valores brasileira. O resultado foi um valor de mercado inicial de R$ 2 bilhões para a Enjoei.

Fonte: UmComo

A Enjoei começou a sua história em 2009, capitaneada pelo casal Ana Luiza McLaren e Tiê Lima que saíram dos seus empregos no Google e na Editora Abril, respectivamente. A empresa que começou com um blog, transformou-se em uma das maiores plataformas de vendas de produtos usados no Brasil. Tudo isso baseado na fama de ser um espaço em que é possível encontrar produtos usados que estejam em boa qualidade. A estética e a linguagem escolhidas para o site ajudaram na construção de uma comunidade coesa. No portal, os usuários podem dar likes nos produtos, são avisados quando aparece um desconto e ainda podem negociar entre si. Influenciadores digitais e lojinhas de celebridades também ajudaram para o crescimento da Enjoei.

Além de colocar roupas usadas de volta no mercado, estendendo a sua vida útil, a Enjoei vem fazendo parcerias com grandes varejistas. São dois tipos diferentes de acordos que contribuem para a circularidade no ecossistema da Enjoei.

No primeiro, a Enjoei faz um serviço de revenda para as marcas, o chamado trade-in. Funciona da seguinte maneira: os clientes levam produtos usados dessas mesmas marcas em suas respectivas lojas físicas e ganham um desconto em peças novas que forem comprar. A operação continua, já sem o cliente, com a Enjoei fazendo a venda em seu próprio site das peças usadas entregues. Na prática, essas peças usadas passam a integrar o acervo do Enjoei Pro, serviço em que a Enjoei se torna responsável pela produção das fotos das peças, anúncio, venda e todo o processo de entrega até o comprador. O valor dessa venda é então entregue ao varejista pela Enjoei, descontada uma comissão. O acordo de trade-in já tem importantes parceiros, como a C&A, Melissa, Animale, Arezzo, Forever 21 e a Farm, por exemplo. O trade-in faz com que peças de roupas usadas voltem ao mercado e tenham a sua vida útil aumentada, contribuindo para a circularidade, portanto.

Já o segundo tipo de acordo traz uma contribuição indireta para a circularidade. Contrariando um pouco a sua origem, a Enjoei fechou acordos com marcas de peso (como Puket, Disney, Lucy in the Sky, Livo, Baw Clothing, Darling, Ava Intimates, Sidewalk e Clube Marisol) para vender peças novas (realmente nunca usadas antes) em seu site cobrando, é claro, uma taxa por isso. Além de aumentar as vendas de imediato, a estratégia visa trazer mais tráfego ao site, comunicar também o apelo sustentável do brechó e oferecer os produtos usados.

Assim, a Enjoei interliga produtores de roupas novas, consumidores de roupas novas e de roupas velhas, além de estimular o retorno de produtos usados (e possivelmente já inutilizados) para o mercado. O brechó virtual faz isso gerando incentivos financeiros para todas as partes e consegue aumentar a vida útil dos produtos — portanto otimizando recursos — exatamente o que preza a economia circular.

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