Como tirar o melhor proveito do conhecimento disperso em ecossistemas de inovação?

Aline Faria
Bridge Ecosystem
Published in
5 min readMar 24, 2021

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Conheça as estratégias de conhecimento disperso em ecossistemas:

📰 No nosso post anterior sobre gestão de conhecimento disperso, abordamos maneiras de lidar com a abundância de conhecimentos disponíveis hoje em dia. Mais especificamente, tratamos de ecossistemas de inovação onde esse tipo de situação tem maior demanda para soluções mais eficientes.

Lá tratamos sobre o melhor autoconhecimento do seu ecossistema de inovação, a identificação dos atores externos envolvidos em cada projeto, a modularização do conhecimento, a relevância estratégica de cada um desses módulos, a capacidade de absorção das empresas envolvidas e o que fazer com isso tudo — inclusive com um fluxograma bem completo. Se qualquer um desses temas parecer novo para você, dá uma conferida lá! 😀

Fonte: Pexels

Hoje vamos dar um passo além do que vimos. Mas, antes, é importante lembrarmos o conceito de estratégias de conhecimento disperso. Essas estratégias dizem até que ponto, e sob que circunstâncias, uma determinada organização tentará usar o conhecimento ou seus principais conceitos e, adicionalmente, até que ponto vai deixar outras organizações explorarem esse conhecimento ou alguns blocos de construção associados a esse conhecimento.

Além disso, ao invés de os gestores montarem suas próprias estratégias individuais, pode-se criar um melhor aproveitamento desse conhecimento disperso quando encontramos um agente com a capacidade de fazer a sua orquestração.

Com isso em mente, trazemos hoje para vocês as três principais estratégias de conhecimento disperso em ecossistemas de inovação, conforme publicado no Journal of Knowledge Management (Gomes et al., 2021):

Estratégia de Transferência

A estratégia de transferência incide em transferir o conhecimento disperso dos parceiros para a empresa focal. Esta estratégia é geralmente adotada quando o conhecimento gerado pelos outros atores é fundamental para a implementação da estratégia competitiva da empresa e, por isso, a empresa focal desenvolve obstáculos para evitar que esse conhecimento seja explorado por parceiros ou outras empresas.

Neste modelo, temos:

  • Módulos de conhecimento totalmente transferidos para a empresa focal.
  • Grande ênfase em acordos de Propriedade Intelectual.
  • Parceiros com restrição de uso do conhecimento criado.
  • Necessidade de a empresa focal ter alta capacidade de absorção.

Um exemplo dessa situação é de uma empresa que, em um projeto de P&D em conjunto com uma universidade, usa um contrato para limitar a possibilidade de uso do conhecimento gerado pela universidade, construindo, assim, obstáculos para a possível transferência de tecnologia a um concorrente. Esse tipo de caso, está especialmente presente em contratos de P&D envolvendo diferentes tipos de laboratórios.

Estratégia de Modularidade

A estratégia de modularidade do conhecimento envolve um contexto no qual os atores externos podem usar o conhecimento disperso para criar valor. Nela, apenas os módulos de conhecimento que são considerados estratégicos são transferidos para a empresa focal. Os demais módulos podem ser usados pelos parceiros e a empresa focal não institui mecanismos de coordenação desses usos. Nesse sentido, os gestores empregaram um mecanismo que chamamos de “desacoplamento”, que consiste em modularizar o conhecimento em blocos de construção.

Neste modelo, temos:

  • Apenas os módulos estratégicos de conhecimento são transferidos para a empresa focal.
  • Grande ênfase no que é mais relevante para a empresa focal.
  • Empresa focal não institui mecanismos de coordenação sobre os conhecimentos gerados pelos parceiros.
  • Pouca ênfase em acordos de propriedade intelectual.

O caso de uma empresa de energia elétrica ilustra bem essa situação. Nele, o gerente de inovação acreditava que alguns conhecimentos seriam relevantes para a empresa, enquanto outros (por exemplo, relacionados ao processamento de imagens, ao uso de algoritmos de inteligência artificial) seriam mais bem explorados pelos parceiros.

Estratégia Circular

Essa estratégia consiste em um conjunto de mecanismos para mitigar o desperdício de conhecimento e aumentar as chances de criar e capturar valor do conhecimento disperso. Nela, apenas os módulos de conhecimento que são considerados estratégicos são transferidos para a empresa focal e os demais módulos podem ser usados pelos parceiros e a empresa focal. Contudo, diferente da Estratégia de Modularidade, a empresa focal institui mecanismos de coordenação desses usos, como por exemplo: (i) pagamento de royalties; (ii) criação de spin-offs; (iii) contratos de CVC (Corporate Venture Capital); (iv) criação de plataformas, etc.

Neste modelo, temos:

  • Apenas os módulos estratégicos de conhecimento são transferidos para a empresa focal.
  • Criação e captura de valor em conjunto com todo o ecossistema.
  • Grande ênfase nos mecanismos de coordenação e captura de valor dos conhecimentos gerados pelos parceiros.
  • Emprego de acordos de propriedade intelectual.
  • Criação de uma plataforma de conhecimento e ênfase em criação de novos produtos.

O caso de um hospital projeta esse tipo de estratégia. Ele mostra a criação de um portfólio de diferentes mecanismos para evitar o desperdício de conhecimento. Primeiro, experimentou-se contratos de opção com algumas start-ups em projetos de exploração, com direitos relativos à aquisição de capital. Em seguida, percebeu-se que parte do conhecimento disperso era estratégico para a organização e, portanto, decidiram criar capacidades de fusão e aquisição. Porém, ao contrário da estratégia de transferência, em que a organização absorve todas as capacidades, neste exemplo de estratégia de conhecimento circular, os atores externos também tinham autonomia para continuar explorando o conhecimento disperso gerado no ecossistema.

Assim apresentamos três estratégias para lidar com o conhecimento disperso em ecossistemas de inovação. Para ainda mais detalhes, você pode dar uma olhada no artigo que mencionamos e está disponível nas Referências logo aqui abaixo.

Até a próxima, pessoal! 😀

Referências

DE VASCONCELOS GOMES, Leonardo Augusto et al. Dispersed knowledge management in ecosystems. Journal of Knowledge Management, 2021.

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