Ecossistemas circulares e smartphones: O Caso da Trocafone

Aline Faria
Bridge Ecosystem
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5 min readJul 7, 2021

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Nesse texto vamos mostrar outro caso de ecossistema circular. Como no caso da Moura, vamos perceber que, no presente caso, o cliente é peça absolutamente fundamental para o bom funcionamento da circularidade. Estamos falando do caso da Trocafone.

Fonte: Pixabay

A Trocafone tem a sua origem com dois argentinos que resolveram experimentar no mercado brasileiro uma nova proposta de valor. A ideia desse negócio veio após Guillermo Freire, sócio de seu xará (Guillermo Arslanian), voltar de um MBA no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Freire andava pelas ruas de Buenos Aires quando foi roubado e ficou sem seu iPhone. Naquele momento, Freire não tinha trabalho e, por isso, decidiu que queria um telefone parecido, porém usado. Além de a sua experiência de compra no marketplace não ter sido boa, o smartphone comprado por ele não funcionava bem. Ao entrar em contato com o vendedor, a firma argumentou que ela era apenas uma intermediária. Foi então que Freire percebeu a oportunidade de um negócio que buscasse solucionar as dores na compra e venda de celulares usados, especialmente para o mercado sulamericano.

Com a ideia em mente, Freire e Arslanian viam no gigante mercado brasileiro uma oportunidade melhor do que na Argentina. Os dois parceiros se mudaram para São Paulo na segunda metade de 2014 e estavam dispostos a democratizar ainda mais o acesso a smartphones. O alvo era a grande quantidade de pessoas que ainda viam o preço e a falta de confiança na compra pela internet como grandes barreiras em ter um dispositivo desse tipo.

A Trocafone começou então formalizando a compra e venda de smartphones dando maior respaldo a essas operações. Isso incluía a verificação contra falsificações e roubos, um dos grandes receios de quem compra um telefone usado, como foi percebido pelos empreendedores. No primeiro momento, os argentinos optaram por validar o empreendimento com uma estrutura mais simples. O site era rudimentar e os smartphones eram coletados diretamente nas casas de quem queria vendê-los. Os vendedores recebiam diretamente em dinheiro, de forma a simplificar a operação e agilizá-la. O passo seguinte era levar os aparelhos para um pequeno coworking onde eram feitos os reparos junto com um funcionário contratado. Por fim, o dispositivo era anunciado no site por um preço maior do que foi comprado. Após os primeiros testes e com a validação da estratégia desenhada, a Trocafone conseguiu uma primeira rodada de capital semente no montante de US$ 4 milhões. O capital veio de investidores como a aceleradora Wayra (Telefônica/Vivo). Assim, o aporte permitiu lançar oficialmente o negócio em janeiro de 2015.

Daí em diante a empresa cresceu bastante, atingindo números expressivos como, por exemplo, mais de 500 mil aparelhos recondicionados. Para potencializar a operação e chegar a esse estágio, a Trocafone teve que desenvolver o seu ecossistema circular. Para tal, alguns tipos de atores foram articulados: grandes varejistas, recicladores e consumidores finais.

Em relação à coleta de smartphones, a empresa adotou o envio diretamente pelo cliente e, principalmente, parcerias com grandes varejistas como Casas Bahia, Americanas.com, Ponto Frio, Magalu, Lojas Marisa, Samsung, LG, Sony, Fast Shop e Vivo. Isso permitiu à empresa atingir a marca de mais de 2.400 pontos de coleta de aparelhos. Nesse sentido, o engajamento do consumidor final (devolvendo o celular antigo ao mercado) e dos varejistas, como parceiros e reais potencializadores de coleta, são fundamentais para a operação e para a proposta de valor desenvolvida pela Trocafone. Os aparelhos usados são só o primeiro passo.

A etapa seguinte define o destino dos smartphones coletados. Após recebidos, os dispositivos passam por rigorosa avaliação de procedência e de qualidade. A Trocafone analisa a conectividade (Wi-Fi, Bluetooth e rede), som (alto-falantes e microfone), câmera e vídeo, botões (inclusive os de tela), embalagem (sem quebras, rachaduras ou outros danos), conectores (fone de ouvido, carregador, entre outros) e bloqueios (apenas aparelhos desbloqueados passam pelo processo). Os telefones recebem os devidos reparos e reposições de peças, quando necessário, e são então anunciados no site para venda. Caso não seja possível fazer o recondicionamento e, portanto, o telefone seja reprovado no teste de qualidade, a Trocafone ainda consegue aproveitar as peças ainda funcionais alocando-as em outros aparelhos.

Outro ator importante nesse ecossistema circular entra exatamente na próxima etapa: reciclagem. Depois da avaliação, recondicionamento e aproveitamento de peças, o que não foi reintegrado em algum aparelho para venda se torna de fato lixo eletrônico. Seguindo os padrões da Lei Federal 12305/2010, o lixo eletrônico é enviado para a GM&C, empresa parceira em logística reversa e reciclagem. Somente em 2020, foram 7 mil quilos de lixo eletrônico enviados à parceira.

Parte da proposta de valor do ecossistema circular da Trocafone inclui o benefício para o consumidor final em ter um desconto ao adquirir um smartphone e entregar o seu dispositivo usado. Assim, além de ter uma plataforma confiável para fazer as negociações, o consumidor final passa a ter com a Trocafone uma maneira de receber dinheiro — seja na forma de desconto ou de fato em Reais.

Fonte: Trocafone

Portanto, com a orquestração dos diferentes atores supracitados, a Trocafone conseguiu estabelecer o seu ecossistema circular e criar valor para o consumidor final, trazendo uma nova solução no acesso ao mercado de smartphones. A próxima meta? Depois de receber um aporte de R$ 30 milhões em maio de 2021, na sua sétima rodada de investimentos, Guillermo Freire pretende ganhar ainda mais escala para o negócio. Para o CEO, a “missão é democratizar a tecnologia para quem não tem smartphones e reduzir o lixo eletrônico”.

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